O ativista Mwazulu Diyabanza foi preso ao tentar resgatar uma escultura tradicional do Louvre

Janos Biro Marques Leite
2 min readNov 21, 2020
Mwazulu Diyabanza, ativista pan-africano, acredita que os objetos de povos colonizados exibidos em museus europeus precisam ser devolvidos aos seus verdadeiros donos.

Fonte: https://news.artnet.com/art-world/mwazulu-louvre-action-1918087

O ativista congolês Mwazulu Diyabanza foi preso no Louvre após um protesto político no qual removeu uma escultura do museu e a levou consigo, enquanto discursava sobre a importância espiritual e religiosa daquela obra para o seu povo. A ação faz parte de uma campanha contínua do ativista para que os museus europeus devolvam a herança africana roubada durante a colonização.

A ação foi gravada e postada nas redes sociais. Diyabanza explica o que está fazendo, como aquela obra foi parar lá, o que isso significa politicamente, Depois pega a escultura e a leva lentamente para fora, enquanto continua discursando. A polícia conseguiu interceptá-lo na saída do museu. Ele foi preso e levado a uma delegacia de polícia, depois transferido para uma prisão fora da cidade. Ele foi libertado alguns dias depois, após uma audiência no Tribunal Judicial de Paris.

Segundo seu advogado, o juiz citou a “complexidade” do caso e suspendeu a tramitação até o dia 3 de dezembro. Enquanto isso, Diyabanza está proibido de entrar em qualquer museu.

A obra que Diyabanza tirou da exposição era uma das duas figuras de um espírito guardião do final do século 18 da ilha de Florès, no leste da Indonésia, que foi emprestada pelo Musée du quai Branly-Jacques Chirac. O museu diz que a obra não parece ter sofrido nenhum dano significativo.

Diyabanza evitou uma sentença de prisão de dez anos e uma multa de € 150.000 euros numa ação semelhante que realizada em junho no Musee quai Branly. Seus advogados argumentaram durante o julgamento que o incidente não foi uma tentativa de roubo, mas sim um protesto político, e o tribunal emitiu uma multa de € 1.000 euros para desencorajar imitadores. O ativista já realizou ações em Paris, Marselha e na Holanda em meio a crescentes apelos dentro da Europa para que colonizadores reconheçam seus crimes de pilhagem e aquisição de objetos para suas coleções nacionais por meio da violência.

“Dizer que não tenho medo seria mentir para você”, escreveu Diyabanza após a prisão no Louvre. “Juntei toda a minha coragem para levar a voz dos meus ancestrais que, por sua inteligência e habilidade, produziram essas obras.” Ele acrescentou que também falava aos povos europeus e ocidentais que querem “purificar” suas memórias de séculos de mentiras e atos vergonhosos.

O ativista Egountchi Behanzin da Liga de Defesa da África Negra, da qual Diyabanza é membro, disse que a polícia excluiu a postagem em vídeo de Diyabanza sobre a ação no Louvre porque ela fornece evidências de que a ação não foi violenta.

Veja mais sobre Mwazulu Diyabanza e sua luta no site: https://www.mwazuludiyabanza-official.com/

--

--

Janos Biro Marques Leite

Graduado em filosofia, escritor, tradutor e criador de jogos.